Terça-feira, 12 de maio de 1987. A data é marcante para o jornalista Cristiano Gomes. Sua avó paterna havia morrido naquele dia. Uma semana depois, ele foi vítima de assédio sexual. Cristiano tinha 11 anos na época.
Na missa de sétimo dia da avó, ele estava com familiares na Paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca, bairro da zona leste de São Paulo, onde era coroinha. Depois da celebração fúnebre, Cristiano foi à sacristia para chorar. Num primeiro momento, foi acolhido pelo pároco de plantão. Depois, no entanto, percebeu que aquilo não era apenas um mero consolo fraternal.
O religioso passou a pressionar seu corpo contra o de Cristiano, a fazer carícias e a encostar a sua barba no rosto do garoto. Assustado e percebendo a excitação do algoz, conseguiu escapar e saiu da igreja para nunca mais voltar. Jamais esqueceu o que passou, muito menos o autor do assédio: o padre Júlio Renato Lancellotti.
“Terminada a missa de sétimo dia, fui à sacristia e entrei num choro incessante, finalmente havia caído a ficha de que eu nunca mais iria ver a minha avó”, lembra Cristiano. “Nesse momento, o padre entrou e me abraçou, um abraço que parecia ser afetuoso. Eu tinha muita admiração por ele e recebi aquele abraço como se fosse de um pai. Ele me abraçava e falava ‘te gosto muito, não fique assim’. Só que isso evoluiu. A barba dele, por fazer, começou a ‘roçar’ no meu rosto, ele apertou mais o corpo contra o meu e começou a fazer movimentos — ou seja, esfregar-se em mim. Naquele momento, senti que ele estava excitado. Toda aquela admiração que eu tinha por ele virou medo. Eu me desvencilhei dos braços dele, saí correndo e nunca mais voltei à igreja.”
Fonte: Revista Oestes